abril 2010


[Resolvidos os problemas técnicos que me impediram de postar por exatamente uma semana, volto à luta! Continuaremos tentando plantar a cruz de Cristo neste solo pagão da internet ;)]

Em 1989, a cidade de Santiago de Compostela, na Espanha, foi eleita para sediar a II Jornada Mundial da Juventude. Mais de 20 anos depois, a Espanha prepara-se novamente para acolher os jovens do mundo inteiro no maior encontro de jovens católicos do mundo. A JMJ 2011, que desta feita ocorrerá em Madrid, reunirá jovens de todas as partes em redor do Santo Padre! Cristo se utilizará do sucessor de Pedro para, mais uma vez, <<fitar todos aqueles jovens e amá-los>> [Mc 10,21]!

Espero que o vídeo abaixo – com o testemunho de alguns dos que participaram da Jornada em Santiago de Compostela, em 1989 – anime os jovens leitores deste blog [e todos os outros a quem este anúncio possa chegar] a se empenharem, desde já, em angariar fundos para lançar-se nessa aventura: partir em direção à capital espanhola “apenas” para ouvir de perto a voz de Cristo – que nos fala pelo Papa. Deus nos abençoe e estimule!

p.s.: Para receber os newsletter da JMJ 2011, basta cadastrar-se no site oficial da Jornada [escolha o idioma no canto superior direito]. Abaixo, trago um outro vídeo apresentando a lógico de construção do logotipo da jornada. Achei legal 😉

          Informo aos leitores deste blog que a não atualização do mesmo [desde a última sexa-feira – 23] decorre de uma falha técnica que já está sendo sanada. 

Com as devidas escusas e contando com a vossa compreensão,

Gustavo Souza

Autor deste blog

[O leitor Fabiano Rollim fez a imensa gentileza de traduzir e me enviar o texto de uma carta aberta escrita por George Weigel ao teólogo Hans Küng. Este último, recentemente afrontou o Santo Padre com uma infeliz carta aos bispos católicos de todo o mundo. George Weigel é Membro Sênior do Centro de Ética e Política Pública de Washington, e teve o seu escrito – originalmente redigido em inglês – publicado neste site. Ao Rollim, mais uma vez meu muito obrigado].


Uma Carta Aberta a Hans Küng

21 de abril de 2010

Por George Weigel

Dr. Küng,

Há uma década e meia atrás, um ex-colega seu, um dos mais jovens teólogos progressistas no Vaticano II, contou-me sobre uma advertência amigável que lhe teria feito no começo da segunda sessão do Concílio. Essa pessoa, hoje um eminente catedrático em Sagradas Escrituras e defensor da reconciliação judaico-cristã, lembrava como, naqueles dias conturbados, você o levou para dar uma volta por Roma em um Mercedes vermelho conversível, o qual seu amigo presumiu ter sido um dos frutos do sucesso comercial de seu livro, The Council: Reform and Reunion[1].

Seu colega considerou aquela exibição automotiva um chamariz de atenção imprudente e desnecessário, dado que algumas de suas opiniões mais aventureiras, e seu talento para o que mais tarde seria conhecido como “frases de efeito”, já estavam levantando sobrancelhas e causando frio em espinhas na Cúria Romana. Então, conforme me foi contado, seu amigo o chamou à parte um dia e disse, usando um termo francês que vocês dois entendiam, “Hans, você está ficando muito évident[2].”

Como alguém que, sozinho, inventou um novo tipo de personalidade global – o teólogo dissidente que se transforma em estrela da mídia internacional – acredito que você não tenha ficado muito incomodado com a advertência de seu amigo. Em 1963, você já estava determinado a traçar um caminho singular para si, e conhecia a mídia suficientemente bem para saber que uma imprensa mundial obcecada com a história peculiar de um teólogo sacerdote dissidente daria a você um megafone para seus pontos de vista. Você deve ter ficado triste com o saudoso João Paulo II por ter tentado desmantelar aquele enredo ao retirar seu mandato eclesiástico para ensinar como professor de teologia católica; sua subsequente acusação rancorosa de uma suposta inferioridade intelectual de Karol Wojtyla, em um volume de suas memórias, tornou-se, até recentemente, o ponto mais baixo de uma carreira polêmica na qual se tornou évident que você é um homem pouco capaz de reconhecer inteligência, decência ou boa vontade em seus oponentes.

Eu digo “até recentemente”, entretanto, porque sua carta aberta aos bispos do mundo, de 16 de abril, que li primeiramente no Irish Times, estabeleceu novos padrões para aquela forma distintiva de ódio conhecida como odium theologicum e para a condenação maldosa de um velho amigo que, ao ser elevado ao papado, foi generoso com você ao encorajar aspectos de seu trabalho atual.

Antes de chegarmos ao assalto à integridade do Papa Bento XVI, entretanto, permita-me observar que seu artigo deixa terrivelmente claro que você não tem prestado muita atenção às questões sobre as quais se pronuncia com um ar de infalibilidade que faria corar as bochechas de Pio IX.

Você parece displicentemente indiferente ao caos doutrinal que cerca a maioria do protestantismo europeu e norte-americano, o qual criou circunstâncias nas quais um diálogo ecumênico teologicamente sério ficou gravemente ameaçado.

Você considera como verdadeiras as acusações mais irracionais feitas a Pio XII, evidentemente sem levar em conta que o recente debate entre os estudiosos está fazendo a balança pender a favor da coragem daquele Papa na defesa dos judeus europeus (independentemente do que se queira pensar a respeito de sua prudência).

Você erra ao representar os efeitos do discurso de Bento XVI em Regensburg, em 2006, rejeitando-o como tendo “caricaturado” o Islã. Na verdade, o discurso em Regensburg focou novamente o diálogo católico-islâmico nas duas questões que precisam ser urgentemente abordadas – a liberdade religiosa como um direito humano fundamental que pode ser conhecido pela razão, e a separação da autoridade religiosa e política no estado do século vinte e um.

Você não mostra qualquer compreensão a respeito do que realmente previne a AIDS na África, e se agarra ao desgastado mito da “superpopulação” em um momento onde as taxas de natalidade estão caindo ao redor do globo e a Europa está entrando em um inverno demográfico criado conscientemente por ela mesma.

Você parece alheio à evidência científica que subscreve a defesa que a Igreja faz do status moral do embrião humano, ao mesmo tempo em que acusa falsamente a Igreja Católica de se opor à pesquisa com células-tronco.

Por que você desconhece essas coisas? Obviamente você é um homem inteligente; você chegou a fazer um trabalho pioneiro em teologia ecumênica. O que aconteceu com você?

O que aconteceu, creio eu, é que você perdeu seus argumentos a respeito do significado e da hermenêutica correta do Vaticano II. Isso explica porque você insiste incansavelmente em sua busca cinquentenária por um catolicismo protestante, precisamente no momento em que o projeto liberal protestante está desmoronando de sua inerente incoerência teológica. E é por isso que agora você se envolveu em uma torpe difamação de outro ex-colega do Vaticano II, Joseph Ratzinger. Antes, porém, de abordar essa difamação, permita-me comentar brevemente sobre a hermenêutica do Concílio.

Ainda que você não seja o expoente mais completo, teologicamente falando, daquilo que Bento XVI chamou de “hermenêutica da ruptura” no discurso à Cúria Romana no Natal de 2005, você é, sem dúvida, o representante de maior visibilidade internacional daquele grupo idoso que continua a insistir em que o período de 1962 a 1965 marcou um caminho sem volta decisivo na história da Igreja Católica: o momento de um novo começo, no qual a Tradição seria destronada de seu lugar de costume como fonte primária de reflexão teológica, sendo substituída por um cristianismo que paulatinamente deixaria “o mundo” estabelecer a agenda da Igreja (como num mote que o Conselho Mundial de Igrejas utilizava na época).

A luta entre essa interpretação do Concílio e aquela defendida por padres conciliares como Ratzinger e Henri de Lubac dividiu o mundo teológico católico pós-conciliar em grupos contendedores representados por duas revistas: a Concilium para você e seus colegas progressistas, e a Communio para aqueles que vocês continuam a chamar de “reacionários”. O fato de que o projeto Concilium se tornou cada vez mais inviável com o tempo – e que uma geração mais nova de teólogos, especialmente na América do Norte, passou a gravitar na órbita da Communio – não deve ter sido uma experiência feliz para você. E o fato de que o projeto Communio moldou decisivamente as deliberações do Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985, convocado por João Paulo II para celebrar os resultados alcançados pelo Vaticano II e avaliar sua plena implementação no vigésimo aniversário de seu encerramento, deve ter sido outro baque.

Ainda assim arrisco dizer que a espada entrou mesmo em sua alma quando, em 22 de dezembro de 2005, o recém-eleito Papa Bento XVI – o homem cuja indicação para a faculdade teológica de Tübingen você tinha ajudado a conseguir – dirigiu-se à Cúria Romana e sugeriu que a disputa tinha acabado: e que a “hermenêutica conciliar da reforma”, que presumia continuidade com a Grande Tradição da Igreja, tinha prevalecido sobre a “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”.

Talvez, enquanto você e Bento XVI bebiam cerveja em Castel Gandolfo no verão de 2005, você de alguma forma tenha imaginado que Ratzinger tinha mudado de idéia nessa questão central. Obviamente ele não tinha. Por que você chegou a imaginar que ele poderia aceitar sua visão sobre o que significaria uma “constante renovação da Igreja”, francamente, é um mistério. Também sua análise sobre a situação católica contemporânea não se tornou nem um pouco mais plausível quando se lê, mais adiante em seu recente artigo, que os papas recentes têm sido “autocratas” em relação aos bispos; de novo, é de se pensar se você tem prestado atenção suficientemente. Pois parece evidente e claro que Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI têm sido dolorosamente relutantes – alguns diriam, desafortunadamente relutantes – em disciplinar bispos que se mostram incompetentes ou com má conduta e que por isso perderam a capacidade de ensinar e de liderar: uma situação que muitos de nós esperam que mude, e mude logo, à luz das recentes controvérsias.

De certa forma, naturalmente, nenhuma de suas reclamações sobre a vida católica pós-conciliar é nova. Entretanto, parece mesmo muito contraditório, para alguém que realmente se importa com o futuro da Igreja Católica como uma testemunha da verdade de Deus para a salvação do mundo, insistir no ponto a que você persistentemente nos insta: que um catolicismo credível percorra o mesmo caminho traçado nas décadas recentes por várias comunidades protestantes que, conscientemente ou não, seguiram uma ou outra versão de seus conselhos para adotar uma hermenêutica de ruptura com a Grande Tradição Cristã. A propósito, essa é a singular posição que você ocupou desde que um de seus colegas se preocupou em você estar muito évident; e já que essa posição lhe manteve évident, pelo menos nas colunas de jornais que compartilham sua visão sobre a tradição católica, imagino ser demais esperar que você mude, ou mesmo aperfeiçoe, seus pontos de vista, mesmo se cada pedacinho de evidência empírica à disposição sugerir que o caminho que você propõe é o caminho da decadência para as igrejas.

O que pode ser esperado, em vez disso, é que você se comporte com um mínimo de integridade e decência nas controvérsias nas quais se envolve. Entendo o odium theologicum tão bem quanto qualquer um, mas tenho de, com toda a franqueza, dizer-lhe que em seu recente artigo você cruzou uma linha que não devia ser ultrapassada, quando escreveu:

“Não há como negar o fato de o sistema de ocultamento posto em prática em todo o mundo diante dos crimes sexuais dos clérigos ter sido engendrado pela Congregação para a Doutrina da Fé romana sob o cardeal Ratzinger (1981-2005)”.

Isso, senhor, não é verdade. Recuso-me a acreditar que você sabia que isso era falso e mesmo assim o tenha escrito, pois isso significaria que você conscientemente se condenou como um mentiroso. Mas assumindo que você não sabia que esta sentença era um punhado de mentiras, então você é tão notoriamente ignorante a respeito de como a competência por casos de abuso eram designadas na Cúria Romana antes de Ratzinger ter tomado o controle do processo e trazido o mesmo para competência da CDF em 2001, que perdeu toda a possibilidade de ser levado a sério a respeito deste ou de qualquer outro assunto que envolva a Cúria Romana e o governo central da Igreja Católica.

Como talvez você não saiba, tenho sido um crítico vigoroso e, assim espero, responsável a respeito de como casos de abuso foram (mal) conduzidos por bispos e autoridades na Cúria até o fim da década de 1990, quando o então Cardeal Ratzinger começou a lutar por uma mudança significativa no tratamento desses casos. (Se estiver interessado, consulte meu livro de 2002, The Courage To Be Catholic: Crisis, Reform, and the Future of the Church[3].)

Por isso, falo com algum conhecimento de causa quando digo que sua descrição a respeito do papel de Ratzinger, conforme citado acima, não é apenas burlesca para quem quer que esteja familiarizado com a história, mas contradita pela experiência de bispos americanos que sempre viram em Ratzinger alguém cuidadoso, disposto a ajudar e profundamente preocupado com a corrupção do sacerdócio por uma pequena minoria de abusadores, e ao mesmo tempo aflito com a incompetência e má conduta de bispos que levaram a sério, mais do que deviam, as promessas da psicoterapia ou que não tiveram a hombridade de confrontar o que tinha de ser confrontado.

Sei que não são os autores que redigem os subtítulos, algumas vezes horríveis, que são colocados em colunas de jornal. Apesar disso, você foi o autor de uma peça tão ácida – em si mesma completamente inapropriada para um sacerdote, um intelectual, ou um cavalheiro – que permitiu que os editores do Irish Times resumissem seu artigo da seguinte forma: “O Papa Bento piorou tudo o que já era errado na Igreja Católica e é diretamente responsável por engendrar o ocultamento global do estupro de crianças perpetrado por sacerdotes, de acordo com esta carta aberta a todos os bispos católicos.” Essa falsificação grotesca da verdade demonstra aonde o odium theologicum pode levar um homem. Mas de qualquer forma isso é vergonhoso.

Permita-me sugerir que você deve ao Papa Bento XVI um pedido público de perdão pelo que, objetivamente falando, é uma calúnia que, assim rezo, tenha sido formada em parte por ignorância (ainda que por ignorância culpável). Garanto-lhe que sou a favor de uma profunda reforma na Cúria Romana e no episcopado, projetos que descrevo até certo ponto no livro God´s Choice: Pope Benedict XVI and the Future of the Catholic Church[4], uma cópia do qual, em alemão, ficarei feliz em enviar-lhe. Mas não há caminho para a verdadeira reforma na Igreja que não passe pelo íngreme e estreito vale da verdade. A verdade foi trucidada em seu artigo no Irish Times. E isto significa que você atrapalhou a causa da reforma.

Com a garantia de minhas orações,

George Weigel

George Weigel é Membro Sênior do Centro de Ética e Política Pública de Washington, onde ocupa a cadeira William E. Simon em estudos católicos.


Artigo original em inglês disponível em: http://www.firstthings.com/onthesquare/2010/04/an-open-letter-to-hans-kung

Traduzido por Fabiano Rollim


[1] N. do T.:“ O Concílio: Reforma e Reunião” – livro não publicado no Brasil.

[2] N. do T.: Évident: aparente, evidente, notável.

[3] N. do T.: “A Coragem de Ser Católico: Crise, Reforma e o Futuro da Igreja” – livro não publicado no Brasil.

[4] N. do T.: “A Escolha de Deus: O Papa Bento XVI e o Futuro da Igreja Católica” – livro não publicado no Brasil.

I – No Reino Da Virgem há um artigo interessante intitulado “A Paixão do Papa. Seis acusações, uma questão”. A autoria é de Sandro Magister, a tradução de Maite Tosta. Leiam!


II – Um amigo apresentou há algum tempo o site Obras Raras do Catolicismo. Eu havia esquecido de divulgar; mas nunca é tarde para fazê-lo 😉 É realmente um acervo impressionante: obras clássicas como o Manual de Apologética Boulanger, e o célebre livro do Padre Leonel Franca “A Igreja, a Reforma e a Civilização” podem ser baixados lá. Acessem!

III – Tragicômico: Em vídeo, Bispo da Universal ensina a arrecadar durante a crise. Não deixem de assistir aos vídeos. Mas, da matéria da Folha, quero destacar um trecho:

A […] gravação mostra o bispo Romualdo contando que um carro-forte que transportava R$ 52 mil arrecadados pela igreja entre os fiéis havia sido assaltado na Grande SP por um grupo de 15 homens armados. Ele atribui a autoria do crime a policiais e narrou que os pastores e bispos deveriam buscar contato com a criminalidade.


Chocante, não?!



Está no site da Folha [com grifos meus]:

Tribunal condena bispo britânico a pagar R$ 23.500 por negar Holocausto

Um tribunal alemão condenou nesta sexta-feira o bispo católico britânico Richard Williamson a pagar uma multa de 10.000 euros (cerca de R$ 23.570) por negar o Holocausto.

O tribunal de Ratisbona (sul da Alemanha) condenou o bispo à revelia por incitação ao ódio racial por causa das declarações que fez a um canal de TV sueco em janeiro de 2009.

[…]

D. Williamson não negou o holocausto enquanto acontecimento histórico. Ele afirmou, na verdade, que não concordava com as proporções do holocausto – divulgadas em estatísticas “oficiais”. É inteiramente diferente. À guisa de esclarecimento, ainda, eu gostaria imensamente que alguém me explicasse o que é exatamente “incitação ao ódio racial”. A meu ver, o pronunciamento de D. Williamson de forma nenhuma instigou quem quer que seja a odiar os judeus. Custa-me crer que o bispo da Fraternidade São Pio X quisesse reinventar o holocausto promovendo o anti-semitismo.

A reportagem me fez recordar as palavras de Nosso Senhor, no Evangelho: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois são semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos mortos e de toda a imundícia” [Mateus 23,7]. É impressionante como a sociedade é hipócrita! Ora, todos os dias alguém dá declarações absurdas e inverídicas à imprensa e ninguém é punido, nem execrado publicamente como D. Williamson está sendo. Abortistas lançam estatísticas falsas sobre a mortalidade materna durante o parto e nem por isso são punidos; teólogos heréticos, como o suíço Hans Küng, falam bobagem à vontade e ninguém os submete à ignomínia; jornalistas maliciosos fazem acusações falsas e insinuações tendenciosas e ninguém diz nada; historiadores mentirosos ensinam a história como eles gostariam que ela tivesse acontecido e nem por isso são vilipendiados como mereciam [aliás, que saudade daquela distinção que a língua portuguesa outrora fazia entre “estória” e “história”…].

Agora eu pergunto: quantos, dos padres e bispos “sem-noção” que já escreveram bobagens muito mais danosas à imagem [e até à Fé da Igreja], pediram publicamente perdão pelo constrangimento que causaram? Quantas vezes Frei Betto, Marcelo Barros, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Clemente Isnard e tantos outros que – costumeiramente – fazem a verborragia de suas ideias pediram perdão ao Santo Padre ou a quem quer que tenham ofendido?

Fique bem claro que eu não estou assumindo a defesa do posicionamento de D. Williamson. Apenas estou dizendo que a sociedade, mesmo a que está dentro da Igreja, é relapsa e condescendente com tanta coisa inadmissível que é dita publicamente e, no entanto, age com rigor implacável para condenar um bispo da Igreja Católica. Penso que se D. Williamson ofendeu a comunidade judaica – ou quem quer que seja – ele já teve a sua punição: fez um pedido público de perdão pelo “constrangimento” que causou; foi expulso da Argentina; reduzido ao silêncio no seio da comunidade religiosa em que vive. Enfim, já não basta? Como certa vez eu comentava com um amigo: “o que querem mais? Que ele saia e se autoflagele em praça pública pelo dano que causou?”.

Ademais, D. Williamson – até onde me consta – ainda tem direitos. Se fosse algum insensato falando bobagens ofensivas à Igreja, em um piscar de olhos seriam reivindicados todos os direitos para respaldar as declarações non sense. Ora, onde está o direito à liberdade de expressão de D. Williamson? Onde está o direito dele à livre manifestação de opinião? Onde está a liberdade de consciência dele? O sacerdócio lhe priva de tais direitos? Ou será que o fato de ser membro de uma fraternidade “integrista” o faz perder essas benesses do Direito?

Pelo jeito, ser hipócrita é fácil. Difícil é ser padre.

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