Acabo de chegar da Casa Mãe da Comunidade Católica Shalom. Fui à Missa de Profissão dos Votos Perpétuos do fundador da Comunidade, Moysés Louro de Azevedo Filho. Celebração belíssima [não obstante os habituais exageros em termos de liturgia] presidida pelo Arcebispo de Fortaleza, S. Excª Revma. D. José Antônio, e concelebrada por mais de vinte sacerdotes – alguns dos quais consagrados à CCS. Alguns diáconos, diversos religiosos [as], e uma quantidade  enorme de leigos [consagrados e não-consagrados]. Bem, após destacar toda esta coorte, permitam-me dizer [ou reiterar] que também eu, Zé Ninguém, súdito e plebeu, lá estava 🙂 Segue portanto, o testemunho do que vi e ouvi neste dia de peculiar importância para Moysés [que pareceu-me ter a língua “pegada” tal e qual o Moisés da Escritura!], para os filhos e amigos da Shalom, para a Igreja particular de Fortaleza e, quiçá, para a Igreja como um todo.

A celebração estava marcada para as 18h30min. Cheguei, britanicamente, por volta das 18h15min – quando já havia muitos leigos e alguns padres presentes. Aproveitei para confessar-me. Encontrei um conhecido de Recife [xará, inclusive] e conversamos brevemente. Observei os dois telões montados, a iluminação e todo o aparato zelosamente preparado para aquela grandiosa ocasião. De repente, olhei para o relógio e já eram quase 19h… A Missa ainda não havia começado! Só então entendi porque os músicos estavam tocando quase todo o repertório planejado com a desculpa de estar “passando o som”: trata-se de uma técnica muito usada [por mim, inclusive] para dissimular o atraso. Pura enrolação. Mas  dá certo. A propósito, não posso deixar de registrar que entre os músicos havia três violinistas, um flautista e um violoncelista. Não fosse a bateria e os instrumentos eletrônicos [baixo, guitarra…] eu seria capaz de jurar que iriam fazer uma camerata. Na falta de silício para penitenciar-me, escolhi sentar-me exatamente atrás da baterista [lugar rejeitado por muitos embora moça afosse uma verdadeira virtuosi].

Tive sede e tomei água. Não muito depois disso, o comentarista da Missa pediu que a assembléia ficasse de pé para receber o cortejo – que entrou em meio à fumaça do incenso queimado para honra e glória de Deus Altíssimo. Paramentos sanguíneos na festa de São Bartolomeu, Apóstolo e Mártir. Ao fundo, desponta a Mitra do Sr. Arcebispo, que solenemente subiu ao altar como Cristo subiu ao Calvário.

Em nome do Pai… Começa a Missa. Rito Romano Ordinário celebrado mui dignamente. Também não posso esquecer de dizer que o Kyrie cantado foi particularmente belo. Mais do que “comover”, me levou a aquele “cair em si” do Filho Pródigo. Acho que inspirou realmente contrição não só em mim mas em todos os presentes. Em seguida, com muito menos solenidade, diga-se de passagem, veio o Glória. Aí, sim, a  baterista reinou triunfante. Exercício de benedicência: pelo menos foi o texto do Glória oficial da Igreja.

Primeira leitura. Falava da “Jerusalém Celeste”, que desce do Alto, de junto de Deus. Recordei-me que “Jerusalém” significa “cidade da Paz”. Como a vocação Shalom é dita “uma vocação de Paz”, eu diria que a leitura “caiu como uma luva”. Depois veio o Salmo – que cantado segundo a salmodia “shalomita” demora tanto que rezar todo o saltério deve ser mais breve…

Proclamação do Evangelho: “Eis aí um verdadeiro Israelita, no qual não há falsidade”. Estas palavras dirigidas por Jesus à Nicodemos [São Bartolomeu] foram reforçadas na homilia de D. José Antônio – que suplicou a Deus fosse Moysés este “homem sem fingimento”, generoso e aberto à Vontade de Deus. Das palavras de S. Excª em referência à profissão perpétua do fundador da Comunidade Católica Shalom gostaria de destacar o seguinte: D. José Antônio afirmou [não com estas exatas palavras, é claro, haja vista que as cito de memória] que a profissão perpétua é como uma ponte que se atravessa. Só que, após a travessia, a ponte se desfaz de modo que não é mais possível voltar atrás. Nunca mais… A colocação do Arcebispo, além de ter um tom poético e misterioso, é profundamentea verdadeira.

Após a homilia, ocorre o tão aguardado momento em que, solene e publicamente, Moysés Louro de Azevedio Filho, se entrega irrevogávelmente a Deus, Nosso Senhor. De joelhos, aos pés de um Sucessor dos Apóstolos, Moysés lê a fórmula de consagração na qual promete viver os Conselhos Evangélicos [Pobreza, Obediência e Castidade no celibato pelo Reino de Deus] no seio da CCS e segundo os estatutos desta mesma comunidade. Em definitivo.Um parêntese: tendo o fundador feito a profissão perpétua, abre-se precedente para que, de acordo com as regras estatuídas, os demais membros possam repetir os passos do fundador nesta entrega incondicional e perene a Deus.

Segue a Missa. A partir de agora, tudo ocorreu “como sempre”: Credo, Preces, Ofetório, Consagração, Comunhão e Ação de Graças. Neste último momento, a co-fundadora da Comunidade, Maria Emmyr Nogueira, com a licença do Sr. Arcebispo, foi fazer publicamente sua ação de graças. Ela agradeceu pela Eucaristia que acabara de ser celebrada, pela Fé recebida no Batismo, e “pelo encontro de dois abismos que ocorria naquele momento da profissão perpétua de Moysés: o abismo da Misericórdia abraçando o abismo do pecado”. Colocação mística brilhante! Penso que isto valha uma boa meditação. Despeço-me para  fazê-la.

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Gustavo Souza

p.s.: No site da Comunidade há alguns vídeos da Missa. Assistam!