O site do PT só fala do pré-sal. Mas, em meio a essa abundância de “quase-sal”, “ainda-não-é-sal”, “sal-em-formação”, seja lá o que diabo que for, encontrei a resolução do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores que pune com a suspensão temporária os deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso. Eurekka!

           Aos que não acompanharam o desenvolvimento dessa novela mexicana que envolve o PT e estes dois parlamentares “subversivos e rebeldes”, eis um brevíssimo resumo da ópera: Luiz Bassuma e Henrique Afonso vêm sendo sistematicamente perseguidos pelas lideranças do Partido os Trabalhadores apenas por defender a Vida e serem contrários a descriminalização do aborto.  A Defesa da Vida inocente não é contemplada no estatuto do PT. Se se tratasse da vida de um culpado, com certeza, haveria guarida para o criminoso no regaço dos petistas… Não se iludam: o compromisso, firmado pelo Partido dos Trabalhadores na resolução do 3º Congresso Nacional, é com a legalização da morte. E, como estes dois deputados não concordam com esta postura, acabaram infringindo as normas…

            No texto do documento que formaliza e “justifica” a decisão do Diretório Nacional por suspender os deputados pró-vida, encontram-se um porção de ‘considerandos’ absurdos, contraditórios, e falaciosos. Os piores, a meu ver, são os seguintes:

            Considerando que o Estatuto do PT garante a todo e qualquer filiado o direito de manifestação pública sobre questões doutrinárias e políticas, sendo, portando, admissível que um militante petista se pronuncie contrariamente a uma posição partidária, desde que os faça respeitosamente e dentro dos limites éticos cabíveis;

            Considerando, contudo, que o comportamento do deputado acusado não se limitou ao mero exercício do direito à liberdade de expressão, mas assumiu uma dimensão militante e agressiva contra diretriz definida em resolução do 3º Congresso Nacional do PT;

               […]

            Considerando, finalmente, que o deputado acusado teve atitudes desrespeitosas e ofensivas à ética partidária em relação a militantes e parlamentares petistas que defendem a descriminalização do aborto, nos termos da resolução aprovada no 3º Congresso;

 

            No Deus lo Vult!, Jorge fez algumas considerações muito pertinentes sobre a “ética” partidária do PT… No mesmo post, ele linkou o comentário de Reinaldo Azevedo sobre a atitude intolerante dos PeTralhas.

            No site da Rádio Cidade pode-se ler mais uma matéria sobre o assunto, bem como ouvir o posicionamento do deputado Bassuma sobre a suspensão.

            Aliás, adiantando, Bassuma já declarou que vai recorrer ao STF porque “considera que a punição é inócua: já que não abrirá mão de suas convicções”.

            Já houve  até quem escrevesse para a CNBB perguntando se, por um acaso, assim, despretensiosamente, não seria lançada nenhuma nota condenando com veemência a atitude cretina do Partido dos Trabalhadores… Infelizmente, acho difícil que isso ocorra. Mas, vejamos. “Para tudo há um tempo”…

            Como não bastasse a celeuma toda que se criou em torno desta punição estapafúrdia que o PT impôs aos dois deputados pró-vida, um ex-padre [que, pelo que entendi, largou a batina para se dedicar à política partidária], hoje chefe do gabinete de Bassuma, foi EXPULSO da reunião do Diretório Nacional do PT pelo presidente nacional da gangue, deputado Ricardo Berzoini. Jaime Ferreira Lopes [que outrora foi Ministro de Deus, mas que se “despromoveu” ao tornar-se assessor de Bassuma] divulgou uma carta pública repudiando a atitude de seu confrade (digo, companheiro) Berzoini. Por considerar justa a indignação de Lopes, trago aqui – na íntegra – o seu protesto contra o Poderoso Chefão do PT. Ei-la:

 

            Excelentíssimo Senhor

            Deputado Federal Ricardo Berzoini

            Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores

 

 

            Não sei se devo chamá-lo de companheiro como normalmente tratei todos os militantes do PT em todos os 30 anos que, filiado ou não, estive ligado ao Partido dos Trabalhadores, depois do tratamento injusto e violento que o Senhor me dispensou nesta reunião do Diretório Nacional do partido.

            Quero, antes de tudo, esclarecer que ali estava na condição de Chefe de Gabinete do Deputado Federal Luiz Bassuma – PT/BA e a pedido dele iria gravar o seu depoimento quando do momento em que iria lhe ser dado a oportunidade de apresentar, oralmente, suas alegações sobre o processo do qual é réu na Comissão Nacional de Ética do PT. E esclareço ainda que não adentrei ao recinto do Diretório sem a devida autorização do porte da filmadora e da máquina fotográfica. A minha reação quando, o Senhor, aos gritos, pedia a minha retirada do recinto foi, num primeiro momento de estarrecimento, mas, graças a Deus, pude imediatamente processar um raciocínio de que o melhor para o momento era realmente atender aos seus gritos e me retirei, pacificamente, do recinto.

            Deputado Ricardo Berzoini eu tenho 54 anos, destes, 30 anos, dedicados à luta social e maior parte deles vinculados ao Partido dos Trabalhadores. Fui padre franciscano durante 16 anos da minha vida e todos eles contribuindo para a construção e fortalecimento do movimento popular, a partir das Comunidades Eclesiais de Base e da Pastoral Operária em Minas Gerais, mais especificamente na região do Vale do Aço. Participei do Diretório Municipal do PT em Ipatinga, na década de 80. Ajudei a construir o PT naquela região até a primeira eleição de Chico Ferramenta (1986) para deputado estadual e depois para prefeito de Ipatinga (1988) e de Geraldo Nascimento (1988), sendo depois Chefe de Gabinete (1990) e Secretário de Educação, Cultura, Esporte e Lazer da prefeitura petista de Timóteo (1991-1992). Em seguida, já em 1993, fui assessor especial do Gabinete da então Secretária de Educação de Belo Horizonte, Sandra StarlinG – PT/MG, na gestão do Prefeito Patrus Ananias, acompanhando-a depois, por quase 3 anos, como Coordenador Político do seu mandato de Deputada Federal.  Em 1995, a convite, assumi a Chefia de Gabinete do então Deputado Federal Chico Ferramenta. Em 1997, tornei-me Chefe de Gabinete do Deputado Federal Walter Pinheiro-PT/BA.  Em 1999, com muita alegria, passei a integrar o Mandato da então Deputada Federal Maria do Carmo Lara, hoje Prefeita de Betim, com ela trabalhando 6 anos. E, em 2004, passei a integrar, a convite, o Gabinete do Deputado Federal Luiz Bassuma.

            Como vê, Deputado Ricardo Berzoini, tenho uma trajetória de trabalho e participação na construção do PT. Alguns dos que estão hoje, nesta reunião do Diretório Nacional, conhecem a minha história. O Senhor por desconhecê-la julgou-se no direito de me tratar com a total falta de respeito no dia de hoje, nesta reunião do Diretório Nacional.

            Não quero aqui nem fazer referência à minha luta contra a ditadura militar, antes mesmo do PT ser fundado e quando ainda era um estudante de filosofia no Seminário da Ordem dos Franciscanos de Minas Gerais, no trabalho quase anônimo de resistência popular ao regime autoritário.

            Como Deputado Bassuma sou também um militante pró-vida, fundador, primeiro Presidente Nacional e hoje Vice-Presidente Nacional Executivo do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto. Um movimento suprapartidário e supra-religioso que tem como objetivo a mobilização popular contra a legalização do aborto no Brasil com 15 Comitês Estaduais constituídos.

            Nunca imaginei que um dia poderia ser tratado com tanta arrogância numa reunião do Partido dos Trabalhadores e ainda mais por seu Presidente Nacional e, pior ainda, por uma razão insignificante, pois, repito, entrei com autorização de quem administrativamente coordenava a recepção na ante-sala do auditório. Portanto, tive o cuidado de perguntar se podia usar a filmadora e recebi o consentimento para utilizá-la. E a intenção era apenas gravar o depoimento do deputado Luiz Bassuma, a seu pedido.

            Quero aqui dizer que sou totalmente solidário ao Deputado Luiz Bassuma e ao Deputado Henrique Afonso pela coragem e determinação com que travam a luta de resistência contra a legalização do aborto no Brasil. Esta é uma questão que está acima das questões políticas e ideológicas, pois, como construir uma sociedade democrática quando o mais fundamental de todos os direitos humanos – o direito constitucional à vida -, torna-se objeto de julgamento por um partido político que nasceu exatamente defendendo os direitos humanos fundamentais. Como vamos construir uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais humana quando se quer legalizar a morte de milhões de seres humanos ainda no útero materno, sem nenhuma possibilidade de defesa? Atender aos apelos de uma minoria que, equivocadamente,

a meu ver, quer impor a bandeira da legalização do aborto, é querer colocar o PT num “gueto”, ou seja, isolado da maioria da população que é contra o aborto e a sua legalização.

            No momento de seu destempero, agradeço a Deus, ter mantido a serenidade preferindo  não contrapor  e, humildemente, me retirei do recinto para não tornar ainda mais difícil e tenso  o debate que se anunciava extremamente eivado de muita contenda.

             Prezado Deputado Ricardo Berzoini, quero dizer-lhe que tornarei pública esta carta.

 

Atenciosamente,

 

Jaime Ferreira Lopes

Chefe de Gabinete do

Deputado Federal Luiz Bassuma – PT/BA