Esta semana tive o privilégio de assistir a uma Missa na qual estávamos presentes apenas o sacerdote celebrante e eu. 2 pessoas. Sendo bastante pretensioso, poderia dizer que o padre celebrou a Eucaristia “para mim”. E como foi bonito ver a piedade daquele sacerdote – que preparava o altar e revestia-se dos paramentos mais dignos para oferecer ao Deus Altíssimo um sacrifício de perfeito louvor! Lembrei-me do que dizia São Francisco de Assis: “Para Deus, o melhor”. Quanta diligência, quanto carinho, quanto amor! Mas, pergunto-me, quantos Ministros do Altar têm esse mesmo zelo e devoção pelo sacramento do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor?
Recordei-me, na ocasião, do arcebispo vietnamita François Xavier Nguyen Van Thuan que – estando na prisão por artimanha da ditadura comunista – celebrava a Missa com 3 gotas de vinho na palma da mão… Mas, ainda assim, não deixava, de forma alguma, de unir-se a Cristo Nosso Senhor na Santíssima Eucaristia. Recordei-me também do Servo de Deus Frei Damião de Bozzano [sacerdote capuchinho que morreu aos noventa e nove anos de idade sem nunca ter deixado de celebrar diariamente a Eucaristia – exceto nos últimos dias de sua vida, quando as condições de saúde não mais lhe permitiram]. E diante de exemplos como estes interrogo-me novamente: no futuro, quantos teremos com esse mesmo fervor, com essa mesma coragem e determinação? Neste Ano Sacerdotal que estamos vivendo, é oportuno nos perguntarmos se os nossos sacerdotes fazem do altar o centro de sua vida. Caso não, como podemos ajudá-los?
Quantos sacerdotes celebram independentemente de haver um “público espectador”? Há uma mentalidade, extremamente danosa, que está disseminada entre os fiéis e entre o próprio clero: trata-se da idéia estapafúrdia segundo a qual o povo “tem que participar” da celebração do sacramento. Certamente que a liturgia é um “serviço público”, um serviço feito “em favor do povo”, mas isso não implica que o povo “tenha que estar” presente [como se pudesse “colaborar” para a realização dos Sagrados Mistérios]. Ora, a eficácia do sacramento não depende das pessoas, mas da Graça [por isso se diz que eles ocorrem “ex opere operatto”]. Uma coisa é considerar como algo bom e proveitoso a presença dos fiéis; outra coisa, inteiramente diversa, é fazer dessa presença uma necessidade para a validade do sacramento. Isso é herético. Estabelecer que a presença do povo é a condição para celebrar a Eucaristia é, também, uma falta de sensatez tremenda. Se cremos realmente no poder da Santa Missa, faremos como aquele centurião que disse a Jesus: “Domine, non sum dignus ut intres sub tectum meum. Sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea – Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada. Mas, dizei uma palavra e minha alma será salva”. As graças auferidas na Sagrada Eucaristia atingem espiritualmente a todos os filhos da Igreja. Logo, nenhum sacerdote deve pensar que “alguém” precisa estar ali, assistindo à Missa, para que a Graça de Deus encontre destinatários.
A Missa enquanto renovação incruenta do sacrifício redentor de Cristo é um mistério [na verdade, um milagre] que ocorre independentemente de platéia. Essa afirmação, inquestionável desde sempre, é tida como “novidade absurda” para muitos católicos. Isso talvez seja fruto de uma visão reducionista que encara a Eucaristia como uma refeição – e só. De fato, um banquete precisa de pessoas para acontecer. Entretanto, para a realização de um sacrifício, basta que haja uma vítima e um algoz. Nada mais. Tendo isso, temos tudo. Cristo é a vítima e, ao mesmo tempo, o sacerdote. O padre então, agindo in persona Christi, vai fazer as vezes de Cristo para que este sacrifício ocorra fisicamente, isto é, dentro da realidade terrena [e não apenas numa dimensão espiritual]. Por isso, naquela Missa “a dois” a que eu assisti esta semana, a minha presença era totalmente dispensável. Bastava o padre com intenção, matéria e forma válidas. O milagre da transubstanciação ocorreria independentemente de mim.
O sacerdote, por si só, pode celebrar a Missa para adorar a Deus, fazer pedidos a Ele, agradecer-Lhe, e suplicar-lhe o perdão das faltas cometidas. Ora, assim ficam atendidos os fins principais pelos quais a Igreja celebra o Santo Sacrifício de Nosso Senhor: a finalidade latrêutica, a impetratória, a eucarística e a propiciatória.
Alguns sacerdotes parecem esquecer que, ao celebrar a Santa Missa, retiram almas do purgatório. Esqueceram que a missa não conta apenas com a participação da Igreja Militante: a Igreja Gloriosa [que está diante de Deus no Céu] e a Padecente [que sofre as últimas agonias no Purgatório] desejam ardentemente assistir, mais uma vez, a total doação do Filho de Deus, que – morrendo em uma cruz – nos abriu as portas do Paraíso.
Seja por falta de piedade eucarística, seja por má formação doutrinária, é sabido que alguns sacerdotes celebram por obrigação. Para estes, a Missa se torna um fardo pesado. Recordo-me agora de um sacerdote que conheci: ele dizia que, na segunda-feira (dia estipulado na arquidiocese como a “folga” dos padres), não celebrava nem Missa de Sétimo Dia! É triste.
O nobre ofício sacerdotal passa a ser visto como um trabalho qualquer. O dia de folga do padre se torna o dia em que ele “se livra” de celebrar a missa. Aquele dia em que ele, para “desopilar”, não quer nem saber dos seus compromissos (incluindo aqui o dever de rezar o breviário). O dia em que ele não se preocupa com nada, nem com Ninguém… Poucos são os que se lembram que a vida de um consagrado a Deus não mais se distingue do seu ofício – assim como não se dissocia Jesus de sua missão.
É lamentável que muitas vezes vejamos sacerdotes que pensam mais nas espórtulas que na mística do encontro com Deus… Ora, oficiar uma missa não é um trabalho qualquer! Distribuir graças é infinitamente mais importante que angariar fundos, receber honorários. Quem dera que todos, padres e fiéis, entendessem que a Missa é uma obra do Amor…