Estamos vivendo o tempo litúrgico do Advento. A Igreja volta seu olhar para o tema do fim dos tempos. Neste fim, para o qual devemos estar preparados, Cristo se manifestará à humanidade mais uma vez. Esta segunda manifestação recebe o nome de Parusia. A oração e a vigilância devem ser as armas, as ferramentas, que nos ajudarão a estar prontos para este fim.

            Se percebermos bem, convivemos muito com a realidade do “fim”. O dia finda e vem a noite. A noite chega ao fim e dá lugar a outro dia. Começamos a universidade achando que nunca chegará ao fim… Mas, de repente, acabamos o curso e nos damos conta de que não nos decidimos e não nos programamos para o que fazer após o término da graduação. Findam relacionamentos, findam projetos, findam amizades… e inimizades! Neste mundo, tudo um dia chega ao fim.

            O fim nos assusta. O fim nos deprime. Quando sentimos que ele está muito próximo, nos desesperamos. Porque todos nós, de certa forma, sofremos um pouco da síndrome de Peter Pan: o mito da eterna juventude. Não queremos que as coisas passem. Não queremos morrer porque a morte representa o fim de uma vida. Por isso queremos nos imortalizar em nossas obras. Queremos sempre deixar um legado, um contributo que permaneça quando nós passarmos.

            Eu diria que, no fim, nós encontramos nós mesmos: como fomos e como somos. Lembro-me agora, não com muita exatidão, que numa passagem de “As Crônicas de Nárnia”, de C. S. Lewis, um garoto vai olhar o que há no fundo de um lago. Ao inclinar-se para a água, porém, divisou a horrenda imagem de um dragão. Assustou-se e recuou. Só depois, o garoto percebeu que o monstro que ele havia contemplado nas águas do lago era nada mais que a sua própria imagem refletida…

            O desejo de saber o que há para além desta vida presente, na carne, leva as pessoas às mais diversas atitudes.

            Os supersticiosos recorrem ao espiritismo, à “profecias”. Ir ao espiritismo ou recorrer às “profecias” de Nostradamus não vai adiantar para saber o que, de fato, haverá no fim.  “Não vos pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu poder” (At 1, 7).

            “Já que tudo há de se acabar, aproveitemos enquanto as coisas existem”. Essa é a triste ilusão que muitos, sobretudo os jovens, acalentam para justificar seu comportamento irresponsável.        Para estes, dizia Santa Catarina de Sena: “Há aqueles que não aguardam o julgamento e vivem, já neste mundo, a certeza do inferno”. Vivem como o rico esbanjador, mas querem a consolação destinada ao pobre Lázaro…

            Há ainda os que, envoltos num pessimismo conformista que nada tem de cristão, pensam      que não adianta fazer algo para melhorar o mundo porque todas as melhorias um dia chegarão ao fim. “O mundo está perdido” é o discurso habitual destas pessoas. Entretanto, já pensaram que caos seria se não lavássemos a louça do jantar alegando que no dia seguinte, durante o café-da-manhã, ela seria usada novamente e, portanto, ficaria suja mais uma vez?  Achar que as coisas estão ruins e deixar por isso mesmo não faz parte do espírito cristão. “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito” (Rm 12,2).

            Acalentar prazeres terrenos como fazem alguns muçulmanos (que vivem pensando em obter dezenas de virgens quando chegarem ao paraíso) também não é das atitudes mais coerentes; já que o que Deus preparou para os que o amam “os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou” (1Cor 2, 9).

            O bonito do pensamento cristão está no equilíbrio com que devemos encarar a efemeridade deste mundo. No fim do túnel há, sim, uma luz (Mt 5, 14): para os que foram luz! Para os que viveram como filhos da luz! (1Ts 5, 5)  Mas há, também, “choro e ranger de dentes” (Mt 25,30) para quem viveu na escuridão do pecado. Há um Deus justo e misericordioso. Um pai que acolhe e um juiz severo. Uma sentença que absolve: “Vinde, benditos” (Mt 25,34), e outra que condena: “Apartai-vos, malditos” (Mt 25,41). É como no fim de uma guerra: despojos de um lado, trunfo do outro. Derrota de uns, vitória de outros. Rezemos para que ao fim, alcancemos a vitória!