Ontem briguei feio. Não uma briga do tipo corpo a corpo. Briguei via internet. Foi melhor, porque assim os hematomas não ficam visíveis. O ring foi o chat da Canção Nova. Os adversários, mais de 20 carismáticos enfurecidos com as minhas “heresias”.
O caso foi o seguinte: após vasculhar todo o site da comunidade sem encontrar uma única linha do texto do estatuto – o famigerado estatuto aprovado recentemente por Roma –, decidi entrar no chat para ver se alguém o possuía ou, pelo menos, saberia indicar onde encontrá-lo.
A minha motivação era a seguinte: há alguns blog’s questionando a não divulgação deste texto. Há até quem insinue que os estatutos não existem! Pessoalmente, eu não duvido que eles [os estatutos] existam. Para mim, é óbvio que a Igreja não aprovou um “texto fantasma”. Além disso, creio que não haveria tanta propaganda do reconhecimento ad experimentum, se a Canção Nova não tivesse, de fato, obtido esta “confirmação” de Roma. O que me incomoda, entretanto, é que o conteúdo do material enviado à Cúria Romana não tenha vindo a público. Entrei no chat, portanto, para conseguir este material. Pretendia, depois, divulgá-lo e, assim, acabar com as desconfianças – a meu ver, infundadas – de quem desafia a Canção Nova a apresentar o tal estatuto.
Parece-me, contudo, que não é costume das novas comunidades divulgar os seus estatutos. Consultei o site de algumas comunidades (esta, esta e esta outra) e não encontrei nem estatuto nem regra de vida de nenhuma delas. Apenas no site da Comunidade Shalom encontrei trechos do estatuto.
Incoerentemente, há uma fraternidade (uma espécie de associação de novas comunidades) fundada em abril deste ano (2008), da qual Monsenhor Jonas Abib é membro, que divulgou o texto completo de sua constituição. As Congregações Religiosas sempre divulgam. Por exemplo: encontrei (aqui) a Regra dos capuchinhos; e (aqui) a da Congregação dos sacerdotes do Coração de Jesus. Por que, então, as novas comunidades mantém isto em segredo? E depois é a Opus Deis que é cheia de segredinhos…
Mas fui ingênuo ao expor isso no chat. Impressionei-me com alguns carismáticos. Pareceu-me que a experiência deles com os carismas se resume a orar em línguas. O primeiro entre os carismas – a Caridade – ficou um tanto quanto esquecido. Talvez não tenham “oficina” deste carisma… Recebi pontapés de todos os lados porque estava buscando uma coisa que era “privativa dos membros”. Começaram a dizer que eu era desses que só faz criticar. Que eu não faria um décimo do trabalho que a Canção Nova faz. Que eu era um tradicionalista maluco (fiquei muito honrado com o emprego do termo tradicionalista). E, por fim, concluíram, arremataram a meu respeito: “você deve ser amigo do Padre Pinto (aquele da Bahia)”. Nessa hora não me agüentei e ri. Alegrei-me e exultei com tamanha acusação tosca.
Mas a coisa ficou feia mesmo quando eu tentei justificar-me dizendo que havia comunidades (note-se: eu não disse que era o caso da Canção Nova) que tiveram os seus estatutos aprovados porque apresentaram um estatuto muito diferente da realidade vivida na comunidade. Que algumas comunidades seguramente jamais teriam obtido o reconhecimento pontifício se tivessem se mostrado como eram. Referi-me a abusos litúrgicos, a práticas sensacionalistas, a uma pregação muito afeiçoada a teologia da prosperidade (de origem protestante), a desvios doutrinários, etc… Enfim, disse que algumas comunidades (e aí, sim, inclui a Canção Nova) seguramente eram um desejo de Deus; mas, inegavelmente, precisavam ser lapidadas em muitos pontos. É precisamente por este motivo que a Igreja concede a aprovação ad experimentum, isto é, por um tempo de experiência durante o qual se vai amadurecer e aprofundar o carisma da comunidade ou congregação. Se o chat fosse moderado, nessa hora eu teria sido expulso.
No site da canção nova, inclusive, encontrei um pregador fazendo uma afirmação até então desconhecida por mim (está mal escrito, mas acho que dá para entender o que ele quis dizer):
“O estatuto deve ser sempre escrito de uma maneira genérica, e não pode ser muito detalhado. É preciso de um outro livro que vai ajudar na vivencia do estatuto, que são chamados de diretório ou cartilha, que trazem as normas mais detalhadas e que não precisa ser aprovada na igreja, este livro vai auxiliar na vivência do estatuto na vida da comunidade. Livros que levam a comunidade ao propósito de santidade” (grifos meus).
Ou seja: tem uma parte que precisa ser aprovada pela Igreja (estatutos), e outra que não precisa (diretório). Mas nenhuma das duas foi publicada! Agora é questão de honra: tenho que ter acesso a pelo menos uma dessas duas coisas. Estou ferido, mas não desisti da batalha. Escrevi um e-mail para o Fale Conosco do site da CN. Vamos ver se me ignoram ou se me respondem. Depois, volto a dar notícias da minha saga em busca do secreto estatuto da Comunidade do Padre Jonas.
novembro 26, 2008 at 2:02 am
É realmente concordo que as comunidades devem deixar que todos tenham conhecimento de seus estatutos. Lembro-me que na semana antes do reconhecimento da CN, havia um link que segunda a ele ia direto ao estatuto, não sei se tinha mesmo, mas creio que não colocariam algo falso numa home…
Por outro lado, se não te conhcesse Gustavo acreditaria que você foi vítima dos carismáticos, mas…Se tu levasse ‘chutes’, com certeza revidasse com tiros!
Boa sorte na saga kkkkkk e PARABÉNS pela consagração! 😉
novembro 26, 2008 at 2:53 pm
Gustavo se vc se interessa tanto pelos estatutos das novas comunidades,o shalom(única que eu tenho conhecimento e que eu posso falar)fez a publicacão dos seus estatutos e regras de vida,é só ir numa livraria shalom e comprar,publicaram tudo num livro só,e pode ser comprado por qualquer um,custa pouco mais de R$30.
Quanto a canção nova,eles criaram um site falando do reconhecimento pontificio,entra lá e ve se publicaram os estatutos,e também todos os dias passa um programa na tv canção nova falando do seu carisma e explicando os seus estatutos!
novembro 26, 2008 at 3:39 pm
Gilberto,
Não tenho interesse “nos estatutos ds novas comunidades”. Meu interesse é no estatuto da Canção Nova. O site do reconhecimento pontifício eu conheço. Mas lá não consta uma única linha do estatuto. O programa fala do carisma de modo genérico. Não aborda pontualmente o estatuto. Você sabe onde posso encontrá-lo?
Grato,
Gustavo Souza
novembro 30, 2008 at 12:43 pm
Meu caro,
Acho que a maioria dos estatutos são privados. Tu já viste o Estatuto do Opus Dei? Até mesmo o Estatuto do Regnum Christi?
novembro 30, 2008 at 1:03 pm
O estatuto da Opus Dei encontra-se disponível, em latim, no link:
http://www.opusdei.pt/art.php?p=13367
Quanto aos do Regnum Christi, de fato, não encontrei.
Os estatutos são uma peça jurídica. No meu entender, não faz nenhum sentido recusá-lo. Pode-se até omiti-lo, como faz o Regnum, sob alegação de que é uma informação não tão interessante. Mas recusá-lo veementemente, como está fazendo a Canção Nova, é no mínimo estranho. Já a Regra de Vida, admito que seja privada.
Abraço,
Gustavo Souza
dezembro 4, 2008 at 2:28 am
Há alguma informação sobre este assunto em outras línguas?
dezembro 4, 2008 at 12:42 pm
Creio que não.
Atenciosamente,
Gustavo Souza
outubro 15, 2009 at 3:55 pm
Meu caro, em primeiro lugar gostaria de te dizer que não existe carismático ou tradicionalista e foi muito infeliz quem se referiu assim. Existe apenas uma única igreja da qual todos nós somos filhos. A respeito dos estatutos, são sim particulares, não existe nenhum prblema em revelá-los, mas é a critério dos responsáveis dos institutos que isso acontecerá. Quando vc diz que as ordens tornam públicas seus estatutos tenho que te dizer que é um equivoco, pois tenho uma tia freira e pedi para ler seus estatutos, sabe qual foi sua resposta: Não posso, só com autorização da minha superiora. Olha que ela já tinha seus votos perpétuos há muito tempo. Pode ser que alguns torne publico seus estatutos, mas nem todos. Se queres ver os estatutos da CN, vá pedir a um membro da Comunidade, ele saberá o que fazer. Só te peço uma coisa, seja igreja e ame e respeite todas as expressões dela. Somos irmãos, não inimigos.
outubro 15, 2009 at 8:45 pm
Meu caro Pablo,
Que só existe uma única Igreja de Cristo [a saber, a Católica] é fato. Tanto eu como você sabemos e cremos nisso. Mas é muito ingênuo da sua parte imaginar que – entre os fiéis – não haja comportamentos diametralmente opostos em relação à vivência da fé. Carismáticos e tradicionalistas existem, sim, e ajem de modo diverso. Se você não percebe isso, é bom abrir um pouco mais os olhos e olhar em volta…
Com relação a CN, devo alertar-lhe para não confundir *Regra de Vida* com *Estatuto*. O Estatuto é um **instrumento jurídico**, a Regra de Vida é um conjunto de orientações práticas [e espirituais] para aqueles que vivem ou desejam viver determinado carisma. O Estatuto é, por natureza, público. Ao passo que a Regra de Vida normalmente é privada. Acho que sua tia confundiu essas duas coisas e por isso se negou a apresentar o “estatuto”.
Entenda bem: eu até concordo que não haja a obrigação de mostrar o estatuto. Mas a *obrigação de não mostrar*, a meu ver, não faz nenhum sentido. É como se uma empresa se recusasse a apresentar o seu contrato social…
A minha discordância é legítima: tenho *direito* de pensar desta forma. Até porque, você sabe, quando alguém faz questão de esconder alguma coisa, acaba provocando desconfiança em quem está em volta… É natural, meu caro.
Bom, mas a razão deste post **foi o fato de eu ter ficado indignado com a mente *estreita e apaixonada* de alguns frequentadores do chat da CN. Um bando de malucos, a verdade é essa. Você devia falar de “amar, respeitar e ser amigo”, a eles. Caridade lá, passa longe!
Abraço,
Gustavo Souza
Autor deste blog
junho 12, 2010 at 6:12 pm
Gustavo,
meu irmao, é facil e só tornar socio evangelizador que vc tem o direito de saber de que vc é realmente socio, entendeu…. gostaria muito de vê como funciona a divisao do dimdim para sobreviver… aquela galera, que viaja 30 x por ano ao exterior, e anda de carro importado e com filho estudando fora do Pais.
agosto 19, 2010 at 11:03 pm
Olá Gustavo!
Hoje li este texto e achei interessante o debate. Gostei da forma que você escreveu. Não vejo absurdo nenhum em suas dúvidas, que por muitas vezes são nossas também.
Se você tiver, me manda estatutos e regimentos de algumas CV.
Grato!!!
setembro 28, 2012 at 5:24 pm
Meu filho, a questão é que o Estatuto de alguma comunidade é somente destinada aos membros formandos e permanentes, a partir do Noviciado, de maneira mais intensa. Não procure saber de um Estatuto de alguma comunidade que você não pertença ou que não tenha o carisma. É perda de tempo.
setembro 28, 2012 at 5:28 pm
Filho, os Estatutos são a vivência, o carisma e a espiritualidade de uma comunidade. São repassados aos membros a partir do Noviciado. Se você não é membro, nem queira saber. Se você não tem o carisma, é perda de tempo!
setembro 28, 2012 at 5:33 pm
Em relação a minha comunidade, algumas coisas são mostradas. Acesse e conheça: http://www.comunidadeboasemente.com e clique no link: Quem Somos.